LESAO POR PICADA DE ABELHA COM FERRAO INTRAESTROMAL E CATARATA ASSOCIADA: RELATO DE CASO
Relatar e descrever caso incomum de picada de abelha na córnea complicado com catarata.
Homem, 61 anos, deu entrada pelo Pronto-Socorro (PS) com história de, há 2 dias, ter sofrido inúmeras picadas de Abelha Africana (Apis melífera scutellata) enquanto trabalhava, uma delas em seu olho direito (OD). À admissão referia borramento visual em OD e dor ocular. Ao exame biomicroscópico verificada conjuntiva hiperemiada, córnea com desepitelização central, edema estromal intenso e muitas dobras de Descemet, ferrão de abelha impactado profundamente no estroma corneano entre 8-9h de relógio. Acuidade visual (AV) à direita de movimentos de mãos. Pressão intraocular de 17 mmHg, ausência de reação de câmara anterior, cristalino transparente, midríase fixa. A remoção externa do ferrão foi tentada, porém sem sucesso devido à profundidade do mesmo, sendo o paciente inicialmente tratado com colírios de moxifloxacino de 4/4 horas, timolol de 12/12 horas e lubrificante ocular. Optou-se por não iniciar corticoides tópicos devido ao defeito epitelial. Nos dias subsequentes, referiu remissão da dor, discreta melhora da AV e apresentou catarata N2, sendo mantida a medicação em uso com acréscimo de colírio de prednisolona 1%, após redução do defeito epitelial. Com a consequente melhora do edema corneano, foi realizada a remoção do ferrão usando pinça de microincisão, seguida de facoemulsificação com implante de lente intraocular. Após uma semana da extração do ferrão, o paciente apresenta melhora gradual do edema e de AV (na última avaliação, conta dedos a 2 metros).
O ferimento da córnea por picada de abelha pode levar à perda visual significativa e permanente. Não existem algoritmos bem estabelecidos para o manejo, no entanto há certo consenso de que nos casos em que existam complicações (edema de córnea, catarata, glaucoma) o tratamento deverá incluir a remoção cirúrgica do ferrão e lavagem da câmara anterior. No caso descrito encontramos tais alterações e o tratamento cirúrgico realizado, com a remoção do ferrão e do cristalino opacificado.
Trauma/Urgências
Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP) - São Paulo - Brasil
Alexandre Cardoso Ribeiro, Julia Castelan Bastian, Marcela Marino Azeredo Bastos
Número de protocolo de comunicação à Anvisa: 2024023032
Responsável Técnica Médica: Wilma Lelis Barboza | CRM 69998-SP